sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O DESABAFO DE UM PAI ANGUSTIADO

Estamos sempre tão envolvidos com nosso umbigo,sempre preocupados em saber das futilidades diárias. A cervejinha do fim de semana,o torresmo,a roupa que vamos usar,as palavras que vamos falar para impressionar quem quer seja,o amigo(a) que nos sacaneou, a pessoa de quem gostamos que saiu pra se divertir e não se dignou a nos convidar,o marido que fez greve de silêncio,a esposa que saiu com a turma do trabalho...Enfim um mundo de muros que inventamos para evitar enxergar a realidade lá fora.Estamos todos protegidos por uma máscara de fantasias que diante de fatos tão tristes nos fazem parecer ridículos.Será que pensamos que o que aconteceu ao amigo do Rio de Janeiro não poderá nos acontecer nunca? Será que somos tão insensíveis ao ponto de deixar de lado a dor de um pai desesperado e falar de culpa? Onde estão seus filhos,seus sobrinhos,seus afilhados agora? Aonde? Têm certeza disso? Vamos sair do cômodo muro que nos torna fracos e fúteis,vamos lutar para que não sejamos nós a caminhar sozinhos pedindo socorro.


Aline Romariz









Chega de Hipocrisia! O desabafo do pai do viciado continua!




Caros amigos, os antigos e os que chegaram agora,



Gostaria de agradecer o apoio de todos numa hora tão difícil como esta. Precisou acontecer um fato chocante, um abalo que não atingiu apenas as famílias envolvidas, para que a sociedade se mostrasse perplexa e comovida perante a tragédia diária que vivemos em todos os cantos do país. Não tive tempo para acompanhar nada do que saiu nos noticiários, mas, segundo ouço falar, há um clima de indignação generalizado. O acontecimento lamentável do sábado, dia 24 de outubro (quando meu filho viciado em crack matou a amiga que tentava ajudá-lo a largar as drogas), fez emergir questões difíceis do dia-a-dia, que todos nós enfrentamos e já não aguentamos. Vocês não me verão mais lamentando os eventos que passaram, isso agora fica na minha esfera pessoal. Só me interessa olhar para frente e fazer alguma coisa.



Dentro dessas questões, o crack é um deles. De uma cracolândia em São Paulo se multiplicaram centenas pelo país. Daqui a um ano serão milhares! A cola de sapateiro foi substituída pela pedra maldita, o consumo disseminado entre todas as classes e o combate intensificado contra o crime organizado transformou o Rio de Janeiro num teatro de guerra, perdida, e que será maquiado para as Olimpíadas de 2016. Mas essa guerra não é só aqui, está espalhada e em expansão por todas as capitais, periferias e áreas pobres principalmente, no interior e nas cidades de fronteira.



O poder público, apesar da boa vontade de alguns setores, se mostra incapaz de deter a marcha vertiginosa das coisas. Há dinheiro para o FMI, para submarino nuclear, para aviões militares sofisticados, para Angra 3 e até para o Haiti, mas o que vemos aqui é a estrutura complemente falida, seja na área da saúde, da segurança pública, na defesa do meio ambiente, apesar dos esforços valorosos do ministro Carlos Minc, e em outras áreas.



Não podemos continuar a ser esmagados e acuados pela falta de recursos, pelo poderio de grandes grupos econômicos, como o setor privado de saúde e a poderosa indústria da bebida, que sabemos ser uma droga pesada, apesar de lícita. Dois exemplos são emblemáticos. O primeiro é a aliciação através da propaganda de cervejas e similares sem nenhum controle, em nome da democracia – a deles, é claro – e do direito de informação. Chega a me doer ver atletas se prestando a isso, por dinheiro. A segunda é pessoal. Passando mal na sexta, final da tarde, fui até uma clínica em Laranjeiras, a mesma em que morreu a Cássia Eller, e que agora mudou de nome. Com a emergência aparentemente vazia, duas pessoas apenas na minha frente, esperei no mínimo uma hora e quarenta para ser atendido, ainda tendo que aturar a cara de nojo que a médica plantonista me lançou, quando com educação reclamei com a enfermeira sobre a demora. Mas meu caso não era de emergência, apenas uma dor profunda no coração, um possível enfartezinho qualquer. Saí de lá indignado e me dirigi a outra clínica, com um pique de pressão que poderia ter consequências graves. Por sorte fui atendido prontamente por lá. Isso em plena zona sul do Rio e com um cidadão comum que, naquela semana, havia se tornado assunto corriqueiro até no exterior.



Esta semana foi a pior que já tive na vida! Contudo, houve fatos positivos e que me surpreenderam. A imprensa, muitas vezes criticada, teve um papel importantíssimo neste debate que se desenrolou, cobrando das autoridades ação. A população a “cada esquina” debateu entre si a sua indignação. Os que têm alguma voz na mídia se pronunciaram. E até um pai ousou falar em humanidade.



Por isso me dirijo aos amigos e aos inconformados com este estado de coisas, para agradecer e alertar.



A imprensa e as pessoas comuns seguraram em minhas mãos nestes dias, mas nenhuma autoridade se dirigiu a mim nem me ofereceu qualquer apoio, não sei se por falta de jeito ou com o intuito de não querer ouvir alguém que grita em seu ouvido.



Não posso gritar sozinho. É muito fácil tirar de cena quem aponta o dedo para setores tão poderosos. Mas se formos milhões a gritar, a apontar o dedo, a coisa fica bem diferente.



Alguns gestos que tenho recebido – centenas de e-mails, scraps e depoimentos pelo orkut – têm me comovido: relatos de famílias desesperadas e até uma comunidade no referido orkut chamada Poemas à Flor da Pele, que criou um movimento em apoio a meu grito.



No domingo que vem, dia 8 de novembro, às 14 horas, mesmo que não apareça ninguém, irei caminhar na praia de Copacabana dizendo não à hipocrisia, à falta de ética, ao descaso e à propaganda de bebidas na tevê. O convite está feito, gostaria muito de ver por lá cidadãos decentes e entidades como o Viva Rio, o grupo Basta, membros do Crack Nem Pensar, Movimento pela Ética na Política, ecologistas e quem mais quiser aderir.



Não pretendo me promover nem me candidatar a nada. Estou muito feliz sendo escritor e promotor de cultura na Internet. Tenho certeza de que ninguém gostaria de estar na minha pele neste momento. Mas não vou me omitir. Saí do armário e espero que outros façam o mesmo.



Chega de hipocrisia! Precisamos de ação, paz e um pouco de HUMANIDADE!



Obrigado!



Luiz Fernando Prôa




Luiz Fernando Prôa




*É carioca, bacharel em Ciências Contábeis,

fotógrafo, vídeo-maker, terapeuta holístico, poeta e escritor.

Está presente em várias antologias, jornais e sites de cultura.

Participou com destaque em diversos concursos literários.

Escreveu para três revistas de circulação nacional.

Produtor e editor do site de cultura

Alma de Poeta www.almadepoeta.com (desde 2000).

Diretor do Sindicato dos Escritores do RJ (2001/2004).

Tem dois livros de poesia editados: Alma de Poeta (1999),

Retratos da Alma (2001) e outros três prontos para edição:

Visões da Nova Era (crônica), Maria Helena, Aprendiz do Amor (romance)

e De Braços Abertos (poesia).





5 comentários:

  1. Aline você me deu uma chuverada bem fria agora. É verdade ,somos tão fúteis,tão ridículos... Olhando nosso próprio umbigo. Vocês vão ao Rio de Janeiro? Parabéns pelo seu texto.

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  2. Aline,tudo bem? Bem querida voce está se solidarizando só com um lado da historia. O filho desse cara matou uma mça linda. Vera Rocha

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  3. Vera, querida!Eu me solidarizo também com a dor da mãe que perdeu sua filha,não podemos,nesse caso,não separar os fatos. De fato,Bruno (filho de Prôa)matou a namorada sob o efeito das drogas.Estou chamando atenção pelo fato da droga levar a esse ponto. Estou mostrando a todos vocês que se unirmos podemos fazer algo para que tragédias como essa não aconteçam. Me solidarizo com a dor de um pai que vem lutando(e eu acompanho) há anos para recuperar seu filho,para tirar seu filho das mãos dos traficantes.E vou lutar sempre,mesmo que sozinha,contra a violência. Bj gde! Carinho, Aline Romariz.
    P.s: Álvaro,estamos tentando,eu e Marise ir ao Rio de Janeiro no domingo,mas não estamos arrumando passagens.

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  4. Vamos todos gritar contra a violencia de traficantes que ficam impunes. Gente quem matou a menina não foi Bruno,foram esses seres horripilantes que plantam a violencia vendendo drogas em cada esquina. Marli

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  5. Oi amiga!
    Muito justa e verdadeira a carta desse pai. Acho que a sociedade anda meio que anestesiada
    diante de tudo que vem ocorrendo.
    Outro dia o Jabor falava numa das crônicas dele sobre isso.
    Por muito menos se depôs um presidente faz tão pouco tempo.
    Agora não, a gente vê coisas absurdas sendo esfregadas na nossa cara e todos ficam quietos,
    ainda concordam que ele é "o cara". Ninguém reage, pouquíssimos fazem algum tipo de cobrança.
    Aí vemos a compra de submarinos, aviões, o presidente sendo recebido pela rainha, o senado às
    turras com outros poderes, enfim, ninguém olha para o povo.
    Segurança, saúde, educação, pra que? Não interessa a eles, nem um pouco.
    Se eu estiver bem, vou até Copacabana participar desse movimento, esse pai representa centenas de
    outros que passaram e passam por esse drama, perdendo seus filhos para a roga ou pra bala perdida,
    mehor dizendo "achada".
    Um beijo carinhoso.
    Su

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