sexta-feira, 29 de maio de 2009
"...E por falar em saudade..."
Hoje acordei com saudade...Saudade das "manas mãe"(sou a caçula e meio filha de três mulheres lindas),saudade da minha terra,da minha praia,dos meus velhos,do meu "Pai bino"(irmão mais velho que já partiu)...Saudade de está com meu povo,do colo gostoso do meu lugar.Saudade do meu mar.Hoje acordei assim... Com vontade de fugir pra lá... Reli os textos da "Beinha"(irmã poetisa) e chorei lembrando o Velho João e a D. Salve,e aqui, enquanto explico o meu pesar,agradeço a Deus essa saudade e as lágrimas que ainda posso chorar.
Aline Romariz
A casa da irmã
(A Alari)
A casa da irmã
tem ruídos
bem vindos
O grito dos netos
A gargalhada do tio
O salto desautorizado
na piscina
das crianças que cresceram
à nossa revelia
A mesa da irmã
recebe visitantes contínuos
ou inesperados
o caruru
misturado como todos
traz castanhas curvas
em hipótese de abraço
camarões enormes
como o prazer da irmã
cacique de uma tribo
híbrida em cores e afetos
O rosto da irmã
de uma alvura
tão pouco nordestina
ressuscita a morenice
da velha mãe
desaparecida no tempo
à nossa revelia
E reedita
com cores novas
o filme antigo
que conta a história
de uma família
colcha de retalhos
diversos
costurados por linhas frouxas
de bem querer
Vera Romariz
(dezembro de 2007)
Misturada mulher, fascinantes papéis
Passei parte de minha vida ouvindo mulheres dizendo que não queriam ter nascido mulher; lamentando-se por não integrarem o universo dos homens, que tudo podiam, na província e no tempo em que nascemos. Mas também passei parte de minha vida sabendo,intestinamente,que ser mulher foi um presente raro que recebi de meus pais: um velho liberal,de voz pausada e melancólica,idealista,que um dia Graciliano Ramos,na prisão,nomeou de “ nacionalista ingênuo”.Ele se encantava com as filhas,todas muito parecidas com ele,um ser meio feminino,para os padrões machistas da época,que odiava tiranias dentro e fora de casa.Investiu em nossa educação,abominando o hábito feminino,culturalmente induzido,de deixar de estudar para casar.Marido,dizia o velho João Romariz., não é emprego.
Encantado com as filhas, meu pai atuou como atuam as mulheres: ensinando-nos a ser tolerantes, solidárias, delicadas. Um poeta, de poucas poesias feitas e muitas vivenciadas. De minha mãe, lembro a força e a ordem, o tom alto que nos incutia medo,aspectos hoje considerados masculinos,pois ela era uma mãe forte e densa que desfazia,com gritos e beijos,o estereótipo da mulher submissa.Sorríamos quando nos dizia que não mandava em nosso pai,que tudo combinava com ele,pois o nosso cotidiano era governado por ela,presidente sem vice,salvo em questões intelectuais.
Tantos anos depois, guardo na memória o presente que ambos me deram: o de ser uma mulher cuja feminilidade elástica tanto pode ser herança de doçura e sensibilidade, quanto exercício de força e interferência no mundo. De uma forma estranha,quando brigo,lembro a velha guerreira, confinada no espaço da casa,que minha mãe sempre foi;quando leio ou faço poemas,exercitando uma sensibilidade ancestral,masculina e feminina,lembro o velho pai,o meu melhor lado feminino.E,híbrida,posso chorar,gritar,sorrir ou calar meus medos,e tanto mais feminina -porque complexa e humana -serei.
Vera Romariz, março de 2008
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