terça-feira, 3 de novembro de 2009

VINÍCIUS CASSIOLATO




                                           PERFORMANCE DA POESIA NOTALGIA
                                                             POR VINÍCIUS CASSIOLATO NA
                                                              REUNIÃO DOS RASCUNHEIROS
                                                                       DE SALTO 22/10/09






NOSTALGIA




( Vinicius Cassiolato)



Quieta, reflexiva...

Seu olhar corta as janelas atravessando a rua.

Mas não vê, nem ouve.

Apenas pensa...

O cigarro em sua mão direita,

Consuma-se sem um trago!





Apesar do conforto de sua poltrona

Do clima calmo do entardecer,

De sua casa estar arrumada,

De tudo estar em ordem,

Ela sente que algo está errado!

Mas o que?





Seus filhos estão criados

Os quadros na parede estão alinhados.

Suas roupas estão lavadas,

E o frio que chega com o entardecer, está do lado de fora.

O que será?





Seu penteado está perfeito.

Fez as unhas pela manhã

À tarde deu aula particular para alguns!

O que será?

Tem uma vida simples de fato,

Mas depois de sua aposentadoria as coisas melhoraram.

Tem sua biblioteca particular

e orgulha-se muito disso.

O que será então?





Pensa que pode ser a falta de energia no bairro.

Mas no seu íntimo sabe que não.

Como se o corpo respondesse à sua mente distante

Vagarosamente seus olhos baixam

E começam a encarar suas mãos... silêncio...

Quanto tempo ela não fazia isso?

Alguns anos.. décadas....

Ela observa cada linha,

Cada traço de sua pele.

Apaga o cigarro para melhor enxergar.






Agora vê como sua pele está esbranquiçada,

Enxerga veias, frágeis e delicadas,

Assim como todo seu corpo atual.

Apesar de suas unhas pintadas,

Está enrugada, envelhecida com o tempo...

Sem nenhum aviso,

Suas mãos viram-se

Deixando as palmas expostas.

Visualiza seus calos, já disformes.





Sentiu uma leve brisa percorrer a sala.

Junto com ela, veio a sessão de Nostalgia.

Lembrou-se do tempo que era jovem.

Nada muito além disso.

Sem rugas, sem marcas, sem filhos.

Apenas jovem.

Em busca de utopias e Revoluções.





Quantas vezes não assumiu para si os papéis de Olga, Anita, ou Clarisse?

Quantas vezes não brandiu a espada feminina?

Enfrentou e venceu seu pai, enfrentou o machismo.

Libertou e foi Liberta.

Pensou em quantos corpos aquelas mãos acariciaram.

Em quantos carinhos fez e recebeu de amantes e namorados!

Sentiu um momento de excitação extrema,

Pensou em seus momentos solitários e únicos,

Masturbando-se, tendo todo seu prazer particular.

Lembrou também de sua mais fiel amiga,

com a qual sempre mantivera relações íntimas.

Onde será que ela estará depois de tanto tempo?

Talvez em algum túmulo.... quem sabe...

De súbito, veio-lhe à memória detalhes de suas Revoluções

Sua luta contra tudo e contra todos.

Mas agora parece tão distante, longe

Enterrada em algum lugar remoto.

Mas sentiu saudades de quando

Assumia para si a voz de Olga Benário,

De quando lutava como Joana D´Arc,

Das vezes que amou as mulheres como Virgínia Woolf,

Ou de quando escrevia, assumindo Clarice Lispector.

Tanto tempo. Tanta Nostalgia.





Quando será que deixou tudo isso para trás?

Pode ser que tenha se apagado com o casamento.

Vieram os filhos.

Sentiu amor maior.

Mas apesar de sua luta ter ficado no passado,

Suas batalhas continuaram.

Casou-se por medo...

Medo...

Medo de...

Medo de morrer...

Medo de morrer sozinha...





OS filhos cresceram,

As guerras aumentaram...

RECLUSA DENTRO DE SUA CASA

PROIBIDA DE VIVER...

Sua rosa foi murchando.

Começou a envelhecer sem perceber.

Ela achou graça ter recordado disso.





Mas apesar de ter-se apagado,

Uma guerreira, sempre uma guerreira.

Ergueu-se outra vez

Com sua força,energia, magia, luz...

Libertou-se depois de décadas de repressão.

Naquele dia, via-se nela, um brilho já extinto.

Levou consigo seu único legado: os Filhos

Tanto tempo. Tanta nostalgia.

Os filhos casaram, e educam seus filhos.





E agora ela está ali.

Sentada.

Em silêncio.

Reparando depois de muito tempo, em suas mãos.

Reparando depois de tanto tempo, que ela existe.

Ela ainda ama.

Ela ainda vive.

Reparou-se, depois de anos, finalmente,

Que ela ainda era Mulher.

6 comentários:

  1. Meninas,o Programa está lindo e o Blog (repaginado)tbm.Parabéns por serem perseverantes e continuarem incentivando e acreditando . Sou fã de carteirinha. Vânia.

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  2. Que coisa mais linda. Parabéns Aline e Marise.Parabéns Vinícius,espero encontrá-lo em Sampa no dia 21/11.

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  3. O que acho lindo em você é essa mania de incentivar o outro.Esquece-se por vezes dos seus próprios versos (lindos) e sai a divulgar os outros.E esse seu nado contra maré ainda é mais bonito.Quando todos pensamos que vai desistir,resiste bravamente contra tudo e todos e brilha (e os invejosos se roem todos). Bravo poeta Aline.Parabéns pela repaginada do Programa e do Blog. Parabéns Vinícius,soube da sua garra e fiquei feliz.Força a todos. Paulo Novaes.

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  4. Adorei o blog e o Programa. Não vou peder nenhum Sábado. Gabriel Valli

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  5. Sempre feito com muito amor. Aline adoro essa tua garra

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  6. Vim parabenizar as duas meninas do rádio. Programa divino o de sábado heim. Blog em fase de releitura,amadurecimento. Sou mais que fã.Parabéns ao jovem poeta.

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